Este é um poema visual que vai da decadência à luz. Através dele a mulher caminha;
através do abandono. Um desejo que passa e não existe mais. É transcendência
em meio ao caos. Dança de terror. Espírito que, mesmo quando tem força,
move-se com ambiguidade. Ela é a beleza que ainda não foi vista no espelho. É
a vaidade ainda presa no limbo da dúvida, numa selva de associações furiosas e
violentas. Ali, entre aquelas paredes, a alma vive num lugar etéreo. Ela sente o corpo
dele, vê-o através de um espelho negro, um portal para seus movimentos de
angústia. Atravessa sem ver, ainda. Ela não se vê, mas sabe que tudo é passageiro.
Vai da dor ao éter. Do cinza ao claro pairando acima do limite. Ainda não é hora
de pagar pela sua vaidade. Tal narrativa ganha peso representada entre as ruínas
de um hospital e a luz da arte. Uma conexão excepcional que aconteceu no conjunto
de prédios históricos da cidade de Matarazzo, localizado próximo à Avenida
Paulista, em São Paulo. Há um antigo posto de saúde, abandonado há 20 anos,
e durante um mês mais de 100 artistas plásticos do Brasil e do mundo habitaram
suas salas e laboratórios para o “Made By... Feito por Brasileiros”, em 2014. Cheia
de dança e do poder ambivalente de sua linguagem, ela salta do palco para revelar
novos registros do corpo em movimento.